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O CULTIVADOR

  • Foto do escritor: Luis Cavalcante
    Luis Cavalcante
  • 29 de jul. de 2022
  • 2 min de leitura



Havia um homem que cultivava a terra, a plantar um trigal. Vivia debruçado sobre a enxada, do amanhecer ao pôr do sol.

Então, juntava-se à família para gozar as delícias do aconchego familiar da esposa e dos filhos.

Não importava o tempo que fizesse: sol, chuva, vento, frio ou calor, lá estava o homem a amainar a terra, libertá-la das ervas daninhas, providenciar o adubo, colocar a semente na intimidade da cova, providenciar a água e tratá-la com muito carinho.

Aquela atividade contínua despertou o interesse de um viajante que por ali transitava com regularidade. E, certo dia, o viajante se aproximou do cultivador e lhe perguntou:

– Bom homem, vejo que estás cansado e no seu limite. Por que não descansas dessa lida tão rude?

Sem se deter, o agricultor respondeu:

– Não posso. Amo a terra. Amo meu trabalho. E por estar velho e cansado devo andar ainda mais depressa. Tenho menos tempo a dispor e muitas tarefas a fazer.

O viajante alongou a vista pelo imenso trigal, que balançava ao vento como mar de ouro líquido e comentou:

– A terra recompensa o teu amor. O trigal está maravilhoso e será produtiva a colheita.

– Mas não sou eu quem colhe, respondeu o agricultor. Eu apenas planto. Minha mulher e meus filhos é que fazem a colheita da generosidade do solo.

O viajante despediu-se e seguiu o seu caminho. Necessitando fazer uma grande viagem, ausentou-se por vários meses.

Retornando, ao passar pela mesma estrada, encontrou o homem às voltas com sua lavoura. Era uma tarde fria, sem sol. A natureza toda parecia chorar, desanimada.

O viajante se aproximou do trabalhador incansável e observou que sulcos profundos lhe vincavam a face. Estava mais cansado, envelhecido e triste. Vestia-se de luto.

– Perdeste algum ente querido? - perguntou.

O cultivador, com voz arrastada, respondeu:

– Perdi, senhor. Toda minha família, em poucas semanas, um a um se foram devorados por febre maligna. Fiquei sozinho.

O viajante se comoveu com tanta dor. Entretanto, por observá-lo ainda a trabalhar, sem descanso, na terra, ousou indagar:

– Se toda a sua família morreu, por que você continua nesta tarefa cansativa? Já não tens mais quem colha os frutos. Semeias o trigo, mas nem tua mulher, nem teus filhos irão colher as espigas maduras.

– Ah, meu senhor, respondeu o outro, parando por um instante seu trabalho. Isto não me preocupa. Prosseguirei plantando. Quem necessite, virá colher o trigo farto. E são tantos os que têm necessidades.

Surpreso pelo desprendimento do camponês, o viajante concluiu:

– Tens razão, bom homem. Quisera Deus que muitos fossem como

tu, a plantar sem esperar a colheita.


“A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram.”

Adam Smith















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