O essencial é invisível aos olhos. Mas, o que é essencial ?
- Luis Cavalcante
- 12 de set. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 17 de set. de 2022
Leia este poema bem devagar, pois cada imagem merece a preguiça do olhar.
“No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta
e, sobre ela, o dia inteiro
entre o planeta e o sem-fim
a asa de uma borboleta”.
É pequeno, mas diz tudo. Nada lhe falta, Uni-verso. Nenhuma palavra lhe poderia ser acrescentada. Nenhuma palavra lhe poderia ser tirada. Assim se faz um poema, com palavras essenciais. O poema diz o essencial.
O essencial é aquilo que se nos fosse roubado, morreríamos. O que não pode ser esquecido. Substância do nosso corpo e da nossa alma. Por isto as pessoas se suicidam: quando se sentem roubadas do essencial, mutiladas sem remédio, e a vida, então, não mais vale a pena ser vivida.
Os poetas são aqueles que, em meio a dez mil coisas que nos distraem, são capazes de ver o essencial e chamá-lo pelo nome. Quando isso acontece o coração sorri e se sente em paz.
Ontem o essencial encontrou-se comigo e foi assim:
Chama-se Marcelo.
Estava na rua, como um invisível para sociedade, quando ele me abordou e perguntou:
“Meu amigo, cadê sua sandália? Não fique descalço, aqui nesse local tem muito caco de vidro no chão, além disso tem muito rato, fico preocupado com o mijo deles!”.
“Eu respondi: - a minha sandália dei para um outro morador de rua!
“Ele me respondeu e de sua boca saíram estas palavras inesperadas: - Não tem problema fique com a minha.”
Rubem Alves assim descreve o encontro com o essencial. “Há momentos em que a gente sente de súbito a presença da harmonia eterna. É um sentimento claro, indiscutível, absoluto. Apanhamos de repente a natureza inteira e dizemos ‘é exatamente assim!’ É uma alegria tão grande! Se durasse mais de cinco segundos a alma não o suportaria e teria de desaparecer. Nesses cinco segundos vivo uma experiência inteira, e por eles daria toda a minha vida, pois eles bem o valem”.
Texto adaptado de Rubem Alves

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